sábado, 21 de abril de 2018

LIberdade, ainda que tardia

Hoje é 21 de Abril, dia de relembrar a saga de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que no final do século XVIII agitou os bastidores políticos do Brasil-Colônia ao propor a independência, a abolição da escravatura entre outras propostas "revolucionárias" demais para a época. No entanto, muito do que se conta na sua história pode vir a ser mito: porque o pintam como um "Cristo Cívico" se Tiradentes, militar como era, não usava nem barba nem cabelos compridos? A partir de quando o 21 de abril passou a ser feriado? Tiradentes passou a ser herói assim que morreu ou levou algumas décadas para isso? E por que será que o brasileiro da atualidade quase que ignora o legado do alferes (antiga patente de oficial das Polícias Militares da época, entre o de tenente e o de capitão)? Espero ajudar a esclarecer alguns pontos nesse texto.

A história de Tiradentes está totalmente relacionada à Inconfidência Mineira, um movimento ocorrido nos séculos XVII e XVIII que tinha como objetivo a separação do Brasil do domínio de Portugal. Naquela época, o Brasil proporcionava grandes lucros aos portugueses por meio de suas riquezas minerais, isto é, ouro e diamantes. Contudo, estas riquezas estavam começando a se tornar escassas.

Além disso, muitos não pagavam o quinto, uma espécie de imposto cobrado pela coroa sobre todo o ouro encontrado na colônia. Desta forma, o lucro de Portugal começou a cair. Reagindo a esta situação, os portugueses passaram a exercer um controle mais rígido sobre as riquezas e a aumentar os impostos. Tais medidas desagradaram a elite de Minas Gerais, que estava significativamente influenciada pelas ideias iluministas importadas da Europa.

Os jovens de famílias abastadas de Minas Gerais eram enviados para estudar na Europa. Dessa forma, acabaram sendo influenciados pelos ideais da Revolução Francesa, que eclodira em 1789 e marcara a entrada na Idade Contemporânea da história, a qual vivemos nos dias atuais. 

Assim, se iniciou um movimento separatista no Brasil: a Inconfidência Mineira. A maioria dos inconfidentes eram homens ricos e cultos, com exceção de Tiradentes, um militar. O nome “Tiradentes” provém do fato de Joaquim José da Silva Xavier também exercer a função de dentista.

O movimento não teve sucesso e os inconfidentes foram presos. Tiradentes ficou preso por três anos, esperando seu julgamento. Todos os outros homens envolvidos na Inconfidência Mineira escaparam de uma pena maior, já que possuíam muitos bens; a maioria optou pelo exílio. Apenas Tiradentes foi condenado à pior das punições: em 21 de abril de 1792, foi enforcado e esquartejado.

Tiradentes passou a ser cultuado após a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889. O feriado, tal como conhecemos hoje, foi revogado e reimplantado diversas vezes, até que a data foi consagrada, em definitivo ao líder da Conjuração Mineira em 1969, durante o Regime Militar (1964-1985)

De acordo com o livro Brasil, uma história, de Eduardo Bueno, Tiradentes pode ter sido um mero bode expiatório no trágico desfecho da Conjuração Mineira. Mas a decência com a qual se comportou ao longo do lento e tortuoso processo judicial e, acima de tudo, a altivez com que enfrentou a morte, tornaram-no, no ato, não apenas a maior figura do movimento, mas também um dos grandes heróis da história do Brasil. Enquanto a maioria dos conjurados chorava, balbuciava e se maldizia --trocando acusações e blasfêmias diante dos jurados--, 

Tiradentes manteve a dignidade, o senso de camaradagem e uma tranquilidade despojada que, da mera leitura dos atos, sua presença refulge imponente e quase majestosa. Embora, de início, tenha tentado negar a existência da conspiração, tão logo as acusações se tornaram evidentes, Tiradentes tratou de atrair toda a culpa sobre si, praticamente se apresentando para o martírio ao proclamar responsabilidade exclusiva pelo movimento. Ao saber que, além dele, outros conjurados tinham sido condenados à morte, Tiradentes declarou: "Se dez vidas eu tivesse, dez vidas daria para salvá-los". 

Coincidentemente, o dia 21 de abril de 1792 foi também num sábado. Sua sentença foi lida por 18 horas e a execução da pena foi para que desencorajasse o povo a fazer outras conspirações. Uma banda marcial tocava a todo tempo, a praça (hoje chamada de Praça Tiradentes) e discursos de defesa à Coroa Portuguesa foram proferidos. Essa espetacularização foi rechaçada pelo povo e ajudou na popularização e no posterior culto à história. 

A popularização de Tiradentes foi tanta, que até hoje, livros, filmes e novelas foram lançados em homenagem ao alferes. Atores como Adriano Reys, José Wilker, Júlio Machado e Thiago Lacerda foram alguns dos intérpretes do líder inconfidente. Tiradentes lutou por liberdade e morreu por ela. Que seu legado fique de lição e que sua morte não tenha sido em vão.

Com informações de Wikipedia, Folha SP e Site História de Tudo