quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Pela divisão Justa do Trabalho Doméstico

Dividir as tarefas domésticas ainda está longe da realidade no Brasil, e no resto do mundo isso não é diferente. Mas por que uma simples divisão de tarefas acarreta tanta desigualdade de gênero no país? De 2004 a 2014, o percentual de mulheres que estão no mercado de trabalho e cumprem tarefas domésticas e de cuidados com os filhos se manteve praticamente igual: passou de 91,3% para 90,7%. Elas dedicam mais que o dobro de tempo a essas funções do que eles: são 25,3 horas semanais contra 10,9 horas dos homens (que mantém essa mesma carga horária há 10 anos). Esses são dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2014 e divulgada pelo IBGE. 

Os números refletem a realidade, nas sociedades a mulher sempre desempenhou o papel de cuidar da casa e dos filhos, um trabalho invisível e desvalorizado que compromete a vida, não apenas das mulheres, como também as crianças, homens e a economia do país. Seja do campo ou da cidade, o trabalho de servir, à família, à comunidade, à igreja, ou qualquer outro âmbito de vida, dificulta também a participação de nós mulheres em espaços públicos. E como acessar as políticas públicas, sem participar de espaços de decisão? Foi com essas perguntas, que a Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste, articulação formada por mulheres e organizações de vários Estados que trabalham com Assessoria Técnica Rural no Semiárido, a qual a Casa da Mulher do Nordeste e o Centro Sabiá fazem parte, lança a Campanha Pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico. Direitos são pra Mulheres e Homens. Responsabilidades também. A campanha tem o objetivo de mostrar a realidade e discutir os desafios e opressões comuns vivenciados pelas mulheres, sejam elas agricultoras, quilombolas, indígenas, estudantes, quebradeiras de coco, pescadoras, professoras, comerciantes, entre outras. É preciso provocar uma reflexão sobre o trabalho doméstico e romper com a naturalização, problematizar a divisão sexual do trabalho é querer um mundo mais igualitário e justo para todos(as). 

É importante ressaltar que o trabalho doméstico e de cuidados deve ser valorizado, já que coloca a vida no centro, contribuindo para a permanência da existência humana na terra. Os afazeres domésticos – que não é remunerado - é algo que necessita ser tratado enquanto responsabilidades de homens e mulheres, apontando a necessidade de discutir com toda a sociedade sua origem, consequências na vida das mulheres, como também propondo uma mudança social: o compartilhamento das tarefas entre as pessoas que moram na mesma casa. É neste contexto que a inserção e situação da mulher no mercado de trabalho sofre grande influência nesta alocação de tempo entre trabalho remunerado e cuidado da família. O fato de se ter filhos (as) menores, bem como pessoas idosas ou enfermas na família, limita a possibilidade de se ter tempo para a realização de outras atividades, principalmente para os trabalhos remunerados, já que as jornadas são pouco flexíveis com as atividades de cuidado. A baixa oferta de aparato social como creches, por exemplo, dificulta ainda mais a participação das mulheres no mercado de trabalho.

Embora se tenha observado um pequeno aumento da participação masculina nessas atividades, a falta de um detalhamento sobre que tarefas e por quem são realizadas ainda dificulta a compreensão sobre essa divisão de ‘papéis’ no âmbito doméstico. Sendo observado o sentido de “ajuda” e não de responsabilidade na maioria das situações. Como encontrar o equilíbrio na divisão dos trabalhos da casa? Então, tome nota: liste todas as tarefas diárias e, ao lado de cada uma, escreva o nome do(a) responsável. Praticamente, se você for mulher, só vai dar você. Faça o esforço de redistribuir as tarefas na família. A partir daí, pode surgir o diálogo e uma mudança. Incorporar a perspectiva de gênero possibilita novas visões e compreensões sobre as realidades, reconhecer valores e ressignificar as relações humanas. 


Emanuela Castro (Casa da Mulher do Nordeste)