quarta-feira, 19 de julho de 2017

SP: Moradores de rua são acordados com jatos de água fria


Moradores de rua foram acordados com jatos de água fria na praça da Sé, no centro de São Paulo, na madrugada desta quarta-feira. A informação, dada pela rádio CBN, é de que eles foram expulsos do local por uma empresa contratada pela prefeitura para limpeza do espaço. A madrugada registou a temperatura mais baixa da capital no último ano, de 7,9ºC, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). À reportagem da CBN, o prefeito regional da Sé, Eduardo Odloak, afirmou que vai apurar o procedimento e que a orientação é para que as equipes sempre abordem os moradores de rua antes de começar a limpeza.

Durante a tarde, o prefeito João Doria (PSDB) negou o incidente. Segundo ele, agentes da limpeza pública estavam lavando as ruas do centro da cidade próximo ao local onde dormiam moradores de rua e, embora não tenham jogado jatos d'água diretamente nos sem-teto, podem ter molhado seus cobertores. A prefeitura se comprometeu a trocar as cobertas.

As pessoas em situação de rua que estavam na região relataram à CBN que a empresa de limpeza, uma terceirizada da prefeitura, iniciou a ação por volta das 7h. As mangueiras lavaram a praça e todo o seu entorno, atingindo também os desabrigados que passavam a noite ali. Mesmo sem direcionar os jatos de água aos moradores de rua, acabaram molhando seus pertences, como roupas e cobertores. Um deles disse à rádio que a limpeza é recorrente no local.

— Às quatro e meia da manhã eles chegam aqui e não estão nem aí, mesmo com um frio danado desses. Molharam nossas cobertas e tivemos que jogar fora — contou.

Durante a madrugada, a prefeitura distribuiu cerca de mil cobertores a pessoas em situações de rua e afirmou ter intensificado as abordagens para encaminhamento até abrigos. As ações são parte do Programa Emergencial de Inverno (PEI), que pretende “atender essa população por meio do Plano de Contingência para Situações de Baixas Temperaturas e zelar pela segurança e bem-estar destas pessoas, além de promover o acolhimento durante os meses mais frios do ano”, como divulgado em nota.

Os moradores, no entanto, relataram dificuldades para chegar aos abrigos; muitos disseram que não conseguiram espaço na van que os levaria até os centros de acolhida. Outros reclamaram dos horários de funcionamento dos abrigos, optando por permanecerem na rua.

— Não tem menor cabimento. Não houve essa situação (de moradores de rua serem acordados com jatos d'água). Até porque se houvesse, na era em que vivemos, alguém teria filmado isso com celulares — afirmou o prefeito, durante agenda pública na tarde desta quarta-feira.

A cidade registrou as temperaturas mais baixas do último ano tanto na tarde de ontem, com 10ºC, quanto na madrugada desta quarta, com 7,9ºC, segundo o Inmet. Na terça, um morador de rua foi encontrado morto em uma esquina do bairro de Pinheiros, na zona sul da capital, sem sinais de violência. A polícia ainda aguarda o resultado da perícia do Instituto Médico Legal (IML) para divulgar a causa da morte, mas suspeita que tenha sido em decorrência do frio.



Jornal O Globo (Rio)