sexta-feira, 16 de junho de 2017

Trump lança doutrina para América Latina

A América Latina, rica em recursos naturais, poderá se tornar o novo Oriente Médio?

A julgar pelo discurso feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta sexta-feira em Miami, a resposta é sim. 

Trump anunciou uma nova doutrina norte-americana para a América Latina – de claro viés imperialista – ao rever o acordo firmado por seu antecessor Barack Obama com Cuba. No discurso, ele afirmou que a Ilha é "uma fonte de instabilidade" no continente e Trump disse ainda que os Estados Unidos têm o "dever de garantir a liberdade em países como Cuba e Venezuela – e em todo o hemisfério."

A palavra "liberdade" costuma ser usada pelos Estados Unidos para justificar intervenções em outros países, como costumar acontecer no Oriente Médio. Especialistas apontam que, com as descobertas recentes de petróleo, como a do pré-sal, a América Latina pode vir a ser tornar o novo palco da cobiça norte-americana. 

"Os Estados Unidos estão preparando condições para os próximos anos, para criar uma situação muito semelhante à do Oriente Médio na América Latina que justifique sua intervenção direta nos assuntos de outros países", disse recentemente o especialista Grazi Nassendini, do Centro de Análise e Estudos Global AZ (leia mais aqui).

No Brasil, os Estados Unidos apoiaram o golpe parlamentar de 2016, que instalou Michel Temer no poder e teve como um dos objetivos centrais a abertura do pré-sal a companhias internacionais.

Com Temer no poder, os Estados Unidos ganharam o direito de realizar exercícios militares na Amazônia – uma ameaça à soberania nacional, segundo o ex-chanceler Celso Amorim (leia mais aqui).

"Eu estou cancelando o acordo completamente unilateral da última administração [Obama] assinado com Cuba", afirmou Trump em um comício realizado em Little Havana, na cidade de Miami, tradicional polo de exilados cubanos nos Estados Unidos, pouco antes de falar no dever de assegurar a liberdade na América Latina.

Embargo - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou hoje (16) o "cancelamento" da política de Barack Obama para Cuba e se mostrou disposto a negociar "um acordo melhor" com a ilha, mas apenas se houver avanços "concretos" para realização de "eleições livres" e a liberdade de "prisioneiros políticos". As informações são da Agência EFE.

"Não suspenderemos as sanções a Cuba até que todos os prisioneiros políticos sejam livres, todos os partidos políticos estejam legalizados e sejam programadas eleições livres e supervisionadas internacionalmente", disse Trump durante discurso em Miami.

O presidente também desafiou Cuba "a comparecer à mesa (de negociação) com um novo acordo que esteja no melhor interesse tanto do seu povo como do americano", e considerou "cancelado" o marco estipulado entre Obama e Raúl Castro para normalizar as relações bilaterais.

Donald Trump advertiu, no entanto, que "qualquer mudança" à sua postura com Cuba dependerá de "avanços concretos" rumo a objetivos como as eleições livres, a liberdade de presos políticos e a entrega à Justiça americana de "criminosos e fugitivos" que encontraram refúgio na ilha.

"Quando os cubanos derem passos concretos, estaremos prontos, preparados e capazes de voltar à mesa para negociar esse acordo, que será muito melhor", assegurou Trump.

"A nossa embaixada permanece aberta com a esperança de que nossos países possam forjar um caminho muito melhor", acrescentou Trump, que não tomou nenhuma medida para rebaixar o nível de relações diplomáticas com a ilha.

O governante americano assegurou também que confia em que "logo" chegará o dia em que haja "uma nova geração de líderes" que implemente essas mudanças em Cuba, uma vez que o presidente cubano, Raúl Castro, deixará o poder em fevereiro de 2018.

Trump anunciou ainda que se "restringirá muito robustamente o fluxo de dólares americanos aos serviços militares, de segurança e de inteligência" da ilha, e dará "passos concretos para assegurar-se que os investimentos" de empresas americanas "fluem diretamente ao povo ".

"Implementaremos a proibição do turismo e implementaremos o embargo", sentenciou Trump.

As mudanças anunciadas pela Casa Branca incluem a proibição das viagens individuais para fazer contatos com o povo cubano, conhecidos em inglês como "people to people travel", e a possibilidade de auditoria a todos os americanos que visitem Cuba para comprovar que não violam as sanções dos EUA. 

"Liberdade" - Antes da formalização do cancelamento do acordo, Donald Trump, afirmou que é "importante" que haja liberdade tanto em Cuba como na Venezuela. No discurso, o presidente norte-americano disse que Cuba sofre "há décadas" com o regime dos irmãos Castro, mas que isto não deve se repetir na Venezuela.

Trump detacou que os Estados Unidos acompanham de perto as denúncias sobre os crimes do "brutal" regime dos irmãos Castro, e que "é importante que haja liberdade em Cuba e na Venezuela".

Trump reconheceu que, "às vezes", na política, as coisas tomam um "pouco mais de tempo" que o desejado, mas prometeu que vai chegar "lá" e que vai conseguir fazer com que Cuba seja livre.

Mudança - A mudança de política para Cuba inclui o apoio de Donald Trump ao embargo comercial e financeiro americano à ilha e, de acordo com a Casa Branca, a oposição aos pedidos internacionais para que o Congresso o suspenda.

"A política reafirma o embargo americano imposto por lei a Cuba e se opõe aos pedidos nas Nações Unidas e outros foros internacionais para acabar com ele", reiterou comunicado da assessoria do presidente norte-americano, enquanto Trump anunciava a mudança de política em teatro do bairro de Pequena Havana.

A suspensão do embargo só pode ser decidido pelo Congresso dos EUA, controlado agora pelos republicanos em ambas câmaras.

Com informações do Portal Brasil 247 e da Agência Brasil