terça-feira, 6 de junho de 2017

#SeNadaDeuCerto já deu errado...

Nem os alunos, nem os professores do colégio IENH, em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, imaginaram a repercussão nas redes sociais gerada a divulgação de fotos da festa com o tema "Se nada der certo", na qual estudantes do último ano se fantasiaram de carreiras "alternativas" caso não passassem no vestibular, como ser faxineiro, cozinheiro e ambulante. 

"Houve um erro de interpretação", disse a psicóloga educacional do colégio IENH, Patrícia Neumann. "Este era um dia para se libertar da pressão do vestibular e relaxar", conta.

A festa temática no intervalo aconteceu no último dia 17, mas foi reproduzida nas redes sociais só nesta segunda-feira (5) e gerou uma avalanche de críticas.

Brasileiros se irritaram com a escolha das profissões e argumentaram que a festa foi discriminatória e ofensiva com pessoas que sustentam famílias seguindo tais carreiras. O colégio foi alvo de reclamações, inclusive em sua página no Facebook.

Neumann explica que a festa faz parte do projeto D, no qual os próprios alunos do 3º ano escolhem um tema para se fantasiarem no intervalo das aulas. "Eles já pensaram em temas diversos, como voltar à infância, cinema, entre outros. Este foi o tema de não aprovados do vestibular, mas houve um erro de interpretação", defendeu.

Ela acrescenta que tanto os alunos, quanto a escola, não tiveram a intenção de ofender tais profissionais. "Como as fotos foram divulgadas pareceu como ofensa a essas carreiras."

Os alunos que participaram da festa agora sofrem perseguição nas redes sociais e estão com medo de represálias.

Segundo a psicóloga do colégio, os perfis dos estudantes nas redes sociais foram invadidos por mensagens de ódio e ameaças. "Os chamaram de 'riquinhos', 'burgueses', tudo que vai contra o que a instituição acredita. Eles estão com receio de dizer que estudam na nossa escola", disse.

Neumann conta que, no mesmo projeto, os alunos já fizeram festas beneficentes e que isso não foi levado em consideração pelas pessoas que os atacaram. "Infelizmente, nas redes, todo mundo escreve o que quer, sem entender completamente o contexto."

A repercussão e as críticas também foram tema de discussões nas salas de aula. "Toda esta situação serviu para um aprendizado para a instituição. Eles [alunos] foram muito maduros em relação a isso tudo e reconheceram o erro."

Agora, a escola está se esforçando para proteger os estudantes que, na avaliação da psicóloga, ficaram expostos a uma situação que saiu do controle. "A maneira como tudo aconteceu não foi adequada. Eles têm todo o apoio dos professores e funcionários. Todo mundo daqui sabe qual é a realidade. Queremos que eles se sintam amparados", disse.

Pela manhã, o colégio se posicionou com uma nota publicada na página do Facebook, na qual justificou que não foi a intenção de discriminar tais profissões e se desculpou pelo "mal entendido".

"A IENH, bem como os seus estudantes, através da referida atividade, em momento algum teve a intenção de discriminar determinadas profissões, até porque muitas delas fazem parte do próprio quadro administrativo e são essenciais para o bom funcionamento da Instituição", afirmou a nota, acrescentando que tal atividade faz parte de um projeto comum nas escolas da região e grande Porto Alegre, que tem como objetivo promover momentos de integração e descontração entre os formandos do Ensino Médio.

Isso tem gerado polêmica nas redes sociais as fotos de alunos do terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Marista e da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH), no Rio Grande do Sul, na festa “Se nada der certo”. Nas fotos, eles aparecem fantasiados de garçons, faxineiras, atendentes do McDonalds, porteiros e outras profissões que julgam ser inferiores.


A festa em questão aconteceu este ano na Instuição Evangélica de Novo Hamburgo e no ano de 2015 no Colégio Marista, mas veio à tona nesta semana após matéria do HuffPost Brasil. Ambos os colégios divulgaram nota pedindo desculpas pelo ocorrido e afirmando que não tinham intenção de depreciar nenhuma profissão.


Um filho de porteiro, no entanto, resolveu dar sua própria resposta ao Colégio Marista. Marcio Ruzon, que também já foi porteiro, publicou em seu Facebook, na noite desta segunda-feira (5) uma carta contundente em que expõe críticas aos alunos e ao colégio e que conta a experiência de seu pai enquanto porteiro.


“Meu pai conseguiu sustentar 3 filhos (e minha mãe administrando como uma Economista) com pouco mais de um salário, hoje todos bem e com família, mas infelizmente ele não deu certo”.


Confira a íntegra.


Meu pai aposentou-se como porteiro. O mesmo que vocês têm aí na entrada do Colégio, que os pais “que deram certo” passam e nem cumprimentam. 
Então, falando do meu pai, ele trabalhava feito um condenado (aliás, mesmo depois que se aposentou teve que voltar à portaria pra completar a renda). O que meu pai recebia de salário era uma mensalidade que as famílias “que deram certo” pagam pra vocês ensinarem essa ética (ou falta dela) aos estudantes. 
Ele tinha uma Barra forte preta e com ela ia de sol a sol, chuva a chuva, noite a noite, cuidar de fábricas ou de condomínios ao estilo que os alunos moram ou que os pais “que deram certo” trabalham como Diretores, Gerentes.
Aprendi a profissão com meu pai. Fui porteiro por anos. Vi o que é você comer em pé ou no banheiro porque não tem ninguém pra substituí-lo nos intervalos. Cansei de atender pessoas na guarita enquanto mastigava um ovo frio. 
Já usei papelão como mesa em cima da privada para almoçar. 
Colégio Marista, meu pai não deu certo. Criou três filhos junto com a minha mãe que ficava apreensiva em casa: -” Será que ele volta?” Porque meu pai pegava estradas perigosas de madrugada, aliando-se ao fato de muitas vezes cuidar de galpões abandonados,que era alvo de bandidos. 
Mas ele não deu certo.
Conseguiu sustentar 3 filhos (e minha mãe administrando como uma Economista) com pouco mais de um salário, hoje todos bem e com família, mas infelizmente ele não deu certo.
Meu pai não é desses pais bacanas que param aí na frente do Colégio, com Cherokees, Tucson, sorrindo pra quem convém e pisando nos descartáveis.
Meu pai tem um Palio que vive quebrando, e mesmo debilitado pela idade, levava todos os netos às escolas públicas. Levava e buscava.
Mas, que pena! Meu pai não deu certo.
Quem deram certo foram essas famílias que dependem da faxineira, do porteiro, do zelador, da cantineira, do gari, da empregada doméstica. Eles deram certo! 
Ainda bem que muita gente “dá errado” na vida, senão quem iria preparar o lanche dos filhos que vão para o Colégio Marista? O pai? A mãe? Não sabem nem como ligar um fogão! Mas deram certo, não é?
Fique um dia sem um gari na sua rua e no dia seguinte você já está ligando na prefeitura fazendo birra! Ué? Pega uma vassoura e varre! Você não “deu certo”?
Fique sem porteiro no condomínio e mundo para. Não sabem descer pra atender o motoboy? Tem medo de quem seja? Pode ser um ladrão, não é? Deixa que o porteiro arrisca (sem seguro de vida) a vida por você (com seguro de vida).
Gente que não deu certo existe pra isso: mimar os que deram certo.
Tenho orgulho de ter um pai que não deu certo, Colégio Marista. E eu tenho orgulho de não ter dado certo também. Já pensou, criar minha filha num ambiente que debocha de profissões, que em vez de promover a isonomia e empatia, fomenta a segregação e a eugenia? 
Deus me livre! 
Aliás, por falar em deus, vocês são de formação católica certo? 
Se nada der certo, vocês vão virar carpinteiro também? Embora eu sendo agnóstico, respeito muito um carpinteiro que “não deu certo” e que vocês finjem amar. Que feio, Colégio! Ensinando crianças a desprezarem seu Mestre?
Enfim, falei demais. Obrigado pela lição de hoje. Talvez tenha sido o único ensinamento que vocês deixaram: 
Se nada der certo, vou para o Colégio Marista. Lá pelo menos eu posso esconder meu ser vazio atrás de um patrimônio que consegui pisando nos outros.


Viu, a lição de vocês acabou “dando certo”!


Revista Forum e Huffington Post Brasil