terça-feira, 6 de junho de 2017

480 famílias indígenas ainda aguardam resposta da SAMARCO; faltam peixes no rio Piraquê-Açu

Um ano e meio após o desastre ambiental de Mariana — MG, tribos indígenas de Aracruz ainda sofrem pela falta de peixe no rio Piraquê-Açu. Sem apoio da Samarco e de Instituições Governamentais, os índios já abriram mais de 60 processos contra a mineradora

De acordo com o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), mesmo com odor e sabor incompatíveis com as características adequadas da água potável, a água do rio está em condições para consumo. Especialistas independentes da Organização das Nações Unidas (ONU), no entanto, pediram ação urgente no Rio Doce, e destacaram vários danos não solucionados, dentre eles a água para consumo humano, a poluição do rio, e a resposta insuficiente do governo e das empresas envolvidas.

O Instituto Estadual de Meio Ambiente (IEMA) e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMA) fizeram um levantamento de todo o Rio Piraquê-Açu e encontraram altas concentrações de metais como ferro, arsênio, chumbo entre outros, superiores ao que é permitido pela legislação. Além de ser fonte de alimentos, o rio era fonte de renda da população. “Nosso manguezal tinha muita fartura por conta dos peixes que entravam e desovavam. Hoje, se você ver está tudo morto”, desabafou Cacique Karai, da tribo Guarani.Após o desastre, os indígenas procuraram fontes alternativas como o artesanato e a Aldeia Temática. A Aldeia foi construída para a gravação de “Como a noite apareceu”, único filme de ficção no mundo na língua guarani, cujos personagens foram interpretados pelos próprios guaranis. Após o fim das filmagens, o local continuou servindo como ponto turístico.

De acordo com o Cacique Karai, o Perú, de 49 anos, a Samarco entrou em contato com os Indígenas e ofereceu um recurso de meio salario mínimo para cada família da região. Atualmente, metade do salário mínimo corresponde ao valor de R$468,50 e a cesta básica de alimentos custa R$ 436,24, porém além da alimentação, os índios têm gastos como energia e água potável. Ao todo são 480 famílias, cada uma com quatro a seis filhos, ou seja, quase 3 mil índios de todo o município de Aracruz-ES, das tribos Tupiniquins e Guarani.

Além do desastre ambiental ocorrido após o rompimento da barragem em Mariana, a área indígena sofre com 37 projetos poluentes de empresas em seu interior e possui seis processos abertos.

Rodrigo (Karai-Mirim), filho do Cacique Karai, desenvolveu um projeto de conscientização dentro da área indígena, chamado “Mata Boa”, no qual trabalha a ideia de respeito à natureza e o que está dentro dela, inclusive a fauna e a flora. “O homem não segue as leis que escrevem, o índio não chega a escrever, mas acredita que o respeito está acima de tudo”, desabafou Rodrigo.
Ameaça ao povo indígena avança em todo o país

Os movimentos indígenas em todo o território brasileiro estão passando por um momento de crise: em abril desse mesmo ano, índios fizeram protesto pacífico em Brasilia (DF), contra a redução de direitos, mas a Policia Militar reprimiu violentamente o protesto, utilizando bombas de efeito moral, balas de borracha e spray de pimenta.

Em fevereiro, no Ceará, índios Tapeba realizaram manifestação contra uma medida de reintegração de posse de terras. Em Aracruz, rodovias estaduais foram interditadas como forma de manifestação pela demarcação de terras e contra o descaso da Samarco.

Todas as manifestações têm em comum o mesmo objetivo: posicionar-se contra o retrocesso politico na garantia dos direitos indígenas. Em maio, o Brasil foi cobrado pela ONU por falta de demarcação de terras e orientado a fortalecer a FUNAI.

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