quarta-feira, 1 de março de 2017

Ela sobreviveu à guerra e ao ebola. Mas morreu de parto

Quando tinha 26 anos, Salome Karwah já tinha desafiado a morte pelo menos três vezes.

Ela sobreviveu à uma epidemia do vírus Ebola, que foi a mais longa e matou mais de 11 mil pessoas na África, incluindo sua mãe, pai, tios e primos. Antes, Salome tinha se escondido de tiroteios para viver as duas guerras civis da Liberia que assassinaram mais de 500 mil liberianos.

No dia 21 de fevereiro, no entanto, Karwah não sobreviveu ao parto de seu segundo filho e se tornou mais uma vítima de um sistema de saúde sem infraestrutura.

Em 2014, a assistente de enfermagem estampou a capa da revista americana como "personalidade do ano". O seu rosto ficou reconhecido como o símbolo da resistência e da esperança de um povo que se via arrasado por um vírus letal, após tanta violência, e ainda tinha que lidar com o silêncio do resto do mundo.

Depois que se curou da Ebola, doença que causa hemorragias, falência dos orgãos e leva à morte, Karwah voltou ao hospital em que recebeu ajuda dos Médicos Sem Fronteiras para prestar assistência aos outros liberianos.

Ela entendia como ninguém o sofrimento de cada um deles e era uma das poucas pessoas que poderiam ajudá-los com o toque humano.

Naquele ano em que estampou a revista, a enfermeira parecia invencível. Em entrevista, ela chegou a afirmar que os sobreviventes do Ebola tinham "super poderes".

Salome Karwah viu o seu povo respirar de alívio quando a epidemia foi controlada. Ela se casou e constituiu uma família. No último 17 de fevereiro, a enfermeira deu à luz a seu segundo filho. Ela permaneceu três dias no hospital e assim que foi liberada para ir para sua casa, começou a ter convulsões.

Ao voltar para o hospital, James Harris, seu marido, disse em entrevista à Times que ninguém prestou assistência a sua mulher."Ela era uma das sobreviventes do Ebola. As pessoas se recusaram a tocar em seus fluídos com medo de infecção. Meu coração está partido", afirmou.

A família da Karwah não tem informações sobre a causa da morte, mas suspeitam de algo deu errado durante a cirurgia.

"Se ela tivesse recebido tratamento adequado, talvez tivesse sobrevivido. Mas ela foi estigmatizada e ignorada", desabafou Josephine Manley, irmã de Salome Karwah.

The Huffington Post Brasil