terça-feira, 28 de março de 2017

Belém adota esporte e artes para reinserir na sociedade jovens em conflito com a lei

Aliando formação profissional com esportes, aulas de música, canto e oficinas de poesia, o Ministério Público do Trabalho de Belém e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) esperam oferecer uma segunda chance para 1.940 jovens de pelo menos cinco cidades da região metropolitana paraense, que são egressos do sistema socioeducativo e penitenciário, ou que vivem em locais de alta vulnerabilidade social. Após ter firmado parcerias com empresas privadas, os participantes serão acompanhados pelo projeto até a entrada no mercado de trabalho.

A ideia, que parece uma receita simples, vem dando bons resultados nos projetos-pilotos: oferecer aos jovens oportunidades de desenvolverem habilidades que até então não conheciam, trabalhando sua autoestima. “Ele precisa entender que pode estudar se quiser, pode ser um técnico se quiser, pode trabalhar se quiser. Por isso são importantes as atividades ligadas à cultura, além das profissionalizantes, para formá-los como indivíduos com autoestima, como cidadãos”, diz a oficial técnica de Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, da OIT no Brasil, Thais Faria.

A iniciativa, lançada ontem (27) em Belém, terá duração mínima de um ano e se dividirá em dois projetos principais. O primeiro deles é o “Escrevendo nossa história”, que oferecerá formações a meninos e meninas em situação de vulnerabilidade social. As formações ocorrerão na Paróquia Nossa Senhora Mãe do Perpétuo Socorro, no bairro do Telégrafo, sob a coordenação do Instituto Universidade Popular (Unipop).

O segundo projeto, “Reescrevendo nossa história”, atenderá egressos de unidades socioeducativas da Fundação de Atendimento Socioeducativo do Pará (Fasepa) e da Fundação Papa João XXIII (Funapa). As ações ocorrerão no polo do projeto, que funcionará na Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (Adra), no bairro do Una.

“A maior parte dos jovens envolvidos em atos ilícitos praticou atos considerados leves. Muitos estavam fora da escola e no trabalho infantil. Eles não tinham perspectiva e não conseguiam vislumbrar outras alternativas. Faltam a eles direitos, escola de qualidade, família. Isso reforça mais uma vez a importância da formação artística, que ajuda a construir características de cidadania que os tornam capaz de pleitear os direitos que têm”, avalia Thais.

Os recursos para os dois projetos são provenientes de um Termo de Concretização de Direitos Humanos entre o MPT e a Companhia Docas do Pará (CDP), no qual muitas das empresas foram revertidas para instituições que atuam com socialização e ressocialização de jovens e com ações de cidadania para crianças, adolescentes e adultos em situação de vulnerabilidade. Ela foi viabilizada a partir de uma parceria de 2016 entre o escritório da OIT no Brasil e o Ministério Público.

Os parceiros firmaram uma série de acordos com empresas da região, para garantir a contratação dos participantes. Por isso, os cursos profissionalizantes oferecidos foram escolhidos levando em conta as demandas da região. “Não há tempo de permanência máxima no projeto. Isso vai depender da necessidade de cada participante, detectada em uma avaliação. Nada impede que alguém permaneça no programa durante todo o primeiro ano”, explica Thais.

O trabalho é conduzido pelos procuradores do Trabalho Sandoval Alves da Silva e José Carlos Azevedo e desenvolvido com apoio do Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJ- PA), e de outras 14 entidades além da OIT, como a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará (Susipe), Polícia Civil, o Centro de Defesa do Negro no Pará, o Centro de Estudos e Memória da Juventude Amazônia (Cemja) e Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB). A Fundação Carlos Gomes (FCG) fornecerá monitores, professores, instrumentos musicais e cursos de educação musical.

As oficinas de poesia serão baseadas no trabalho da poetisa, jornalista, cantora e atriz Elisa Lucinda, já parceira da OIT. “Essa formação tem o objetivo de fortalecer a língua portuguesa e a capacidade de diálogo. Temos visto a partir de trabalhos em outros lugares que muito da dificuldade dos jovens de entrar no mercado de trabalho se deve ao fato de eles não conseguirem falar nas entrevistas, porque em geral não sabem como fazer isso e não dominam o instrumento do diálogo. Em muitos casos eles reagem agressivamente porque não têm a munição da palavra para agir de outra forma”, diz Thais.

Rede Brasil Atual