quinta-feira, 30 de março de 2017

Adriana Ancelmo: em casa, sem telefone e sem internet

O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio, transformou a prisão preventiva de Adriana Ancelmo em prisão domiciliar. A medida atende a um pedido da defesa, em função de Adriana ter dois filhos menores, um de 11 e outro de 14 anos. Ela deverá ficar em um imóvel sem linha telefônica e sem acesso à internet. Ainda não há prazo para a saída dela do Complexo Penitenciário de Gericinó. Segundo Bretas, a mudança só vai acontecer após o imóvel passar a atender os requisitos determinados.

O advogado de Adriana Ancelmo, Alexandre Lopes, informou que até segunda-feira vai enviar ao juiz petição para informar que o apartamento de sua cliente cumpre as condições estipuladas para a prisão domiciliar. A Polícia Federal, então, fará uma vistoria no apartamento onde Adriana poderá ficar com os dois filhos, para que o juiz determine a transferência dela.

De acordo com a decisão, só será permitida a visita de advogados constituídos por Adriana nos processos que apuram o suposto esquema de corrupção comandado por Cabral e de parentes até o terceiro o grau. Os visitantes não poderão entrar no apartamento com celulares, tablets ou qualquer aparelho com conexão. Todas as visitas terão que ser registradas pela defesa.

A decisão de Bretas surpreendeu até mesmo o advogado de Adriana. Um pedido semelhante já havia sido negado pelo magistrado logo após a prisão e não havia a expectativa de que o novo pleito fosse apreciado durante a audiência de ontem, em que foram ouvidas testemunhas de acusação no processo. O defensor acreditava que a decisão pudesse ser proferida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas não pelas mãos de Bretas.

A prisão da advogada aconteceu 19 dias após a do marido Sérgio Cabral, apontado como líder do grupo que desviou verba em obras com diversas empreiteiras como a reforma do Maracanã e o Arco Metropoliltano, em troca de aditivos em contratos públicos e incentivos fiscais.

Entre os principais motivos da prisão da ex-primeira-dama estão contratos do escritório Ancelmo Advogados com empresas que receberam durante a gestão Cabral benefícios fiscais do governo fluminense e a suspeita de que ela estaria dando prosseguimento às práticas de corrupção e lavagem de dinheiro uma vez que não teria entregue todas as joias compradas pelo casal aos investigadores.

Nesta sexta-feira, a ex-secretária de Adriana Ancelmo, Michele Thomaz Pinto, reforçou em depoimento à Justiça Federal que Luiz Carlos Bezerra, apontado como operador financeiro do esquema de Cabral, levava semanalmente entre R$ 200 mil e R$ 300 mil em espécie ao escritório de advocacia comandado por Adriana. Michele já havia prestado as informaçõea à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal. O dinheiro, segundo ela, era carregado em uma mochila e ficava guardado em cofres.

Também em depoimento hoje, a ex-secretária de Sérgio Cabral Sônia Baptista afirmou que os gastos pessoais do ex-governador que ficavam sob responsabilidade dela giravam em torno de R$ 120 mil a R$ 150 mil por mês.

Deste valor cerca de R$ 40 mil eram destinados aos 15 funcionários que trabalhavam no apartamento de Cabral no Leblon, na casa de Mangaratiba e no imóvel de Susana Neves Cabral, ex-mulher do governador, este localizado na Lagoa. O montante, segundo o depoimento, não inclui gastos com roupas e joias, que não estavam na alçada dela.

Jornal O Globo (Rio)