quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Grafite X Apropriação Cultural


Em meio a uma discussão nacional por causa do uso de turbante em mulheres brancas, o carnaval de Pernambuco veio com mais essa polêmica de apropriação cultural. O jornalista e artista plástico Flávio Barra ( também conhecido como Santo Forte nas Ruas ) foi convidado para grafitar a mais nova imagem do Galo Gigante, símbolo do carnaval do Recife. No entanto, o movimento de grafiteiros do Recife, representado pelo grupo 33 Crew postou uma nota de repúdio nas redes sociais. "queremos, antes de tudo, dizer que nossa posição não é contra a pessoa de Flávio Barra, se ele é ou não grafiteiro, se pinta ou não na rua. Muito menos julgar o seu trabalho". O repúdio é contra o fato da Prefeitura do Recife não ter incentivado ou beneficiado a arte de rua.

Leiam a nota escrita pelo pessoal do 33 Crew:
NOTA PÚBLICA
O graffiti que acreditamos é ideológico, estético, artístico, contra-cultural, mas é também livre e aberto a novos diálogos, propostas e mudanças. Porque no mundo tudo muda, e mudanças são sempre bem vindas; muitas vezes abrem portas, dão oportunidades, propõem novas conexões. Depois de tantas discussões sobre a escolha do artista para pintar o Galo da Madrugada, queremos, antes de tudo, dizer que nossa posição não é contra a pessoa de Flávio Barra, se ele é ou não grafiteiro, se pinta ou não na rua. Muito menos julgar o seu trabalho. Mas, nós, grafiteirxs de Pernambuco, não podemos, enquanto integrantes de uma cena que carece de incentivo, nos isentar do debate.

Enquanto coletivo composto por artistas e escritorxs de graffiti, queremos por meio desta nota pública, expressar a nossa insatisfação com a Prefeitura da cidade do Recife, que se emocionou demais com essa história de usar a arte urbana como estandarte da festa. Ao convidar um artista para decorar o ícone do Carnaval do Recife, O Galo da Madrugada, que representa o maior bloco de rua do mundo, a curadoria precisava estar diretamente envolvida com a cena local, procurar opinião de outrxs produtorxs, curadorxs e até artistas, afim de fazer uma escolha mais legítima. Entendemos que não se consegue agradar a todos, mas pontos como representatividade, trajetória e originalidade são indispensáveis quando de uma eleição como essa.

A escolha da Prefeitura, obviamente, pode ser bem recebida pela maior parte do público folião, que, infelizmente, desconhece uma cena composta por grafiteirxs de todas as regiões de Pernambuco, que resistem em meio a falta de incentivo e valorização. Na nossa cidade, existem grandes referências que tentam sobreviver da sua arte, promovendo ações de impacto social. Apesar do esforço, ainda enfrentam dificuldades e sofrem com a marginalização e o preconceito.

Reconhecemos a importância da Prefeitura do Recife ter incluído nomes da arte urbana na decoração do Carnaval do Recife (a exemplo Bozó, Zeroff, Boris, Karina...) mas contestamos a falta de representatividade na intervenção do galo, o grande anfitrião da festa de momo. Também estamos solidários ao artista Sávio Araújo, que foi obrigado a recolher o Galo Maestro por não concordar com a exigência de depená-lo e deixá-lo todo cinza para receber a intervenção. Entendemos seu posicionamento e acreditamos que ele poderia ter sido incluído no processo de concepção. Nos últimos sete anos, Sávio contribuiu não apenas para confecção do maior símbolo do Carnaval pernambucano como para a comunidade de Pirajuí (Igarassu), onde o gigante incrementava a renda de marisqueiras e jovens.

Esperamos que toda essa divulgação e firula em torno da arte urbana se estenda para além do período de Carnaval e reverbere em políticas públicas que incentivem a arte educação como instrumento de inclusão social. O graffiti, em sua origem, é transgressor e não pede licença, mas acreditamos que colocar grafiteiros da periferia como protagonistas é não apenas um questão de justiça, mas uma forma de gerar mais representatividade e empoderamento.


Para que você, leitor, entenda melhor o que o pessoal da 33 Crew está reivindicando, vamos tentar mostrar aqui nesse texto o que originou esta arte de rua:


A arte do grafite é uma forma de manifestação artística em espaços públicos. A definição mais popular diz que o grafite é um tipo de inscrição feita em paredes. Existem relatos e vestígios dessa arte desde o Império Romano. Seu aparecimento na Idade Contemporânea se deu na década de 1970, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Alguns jovens começaram a deixar suas marcas nas paredes da cidade e, algum tempo depois, essas marcas evoluíram com técnicas e desenhos.
O grafite está ligado diretamente a vários movimentos, em especial ao Hip Hop. Para esse movimento, o grafite é a forma de expressar toda a opressão que a humanidade vive, principalmente os menos favorecidos, ou seja, o grafite reflete a realidade das ruas. O grafite foi introduzido no Brasil no final da década de 1970, em São Paulo. Os brasileiros não se contentaram com o grafite norte-americano, então começaram a incrementar a arte com um toque brasileiro. O estilo do grafite brasileiro é reconhecido entre os melhores de todo o mundo.
Fica a reflexão: arte, ativismo ou artivismo?

Com informações do Portal Brasil Escola, do Portal NE10 e do Facebook do 33 Crew