domingo, 21 de fevereiro de 2016

Como o Brasil venceu as epidemias no passado?

No início deste mês, o governo surpreendeu ao editar uma medida provisória que permite o acesso forçado a imóveis no combate ao mosquito Aedes aegypti, que transmite, além da dengue, o zika vírus. Embora pareça invasivo, esse foi um dos métodos usados no início do século passado pelo diretor de Saúde Pública do Rio de Janeiro, Oswaldo Cruz (foto), que ajudou a erradicar o vetor. O temor naquela época eram a febre amarela e a varíola.
O sanitarista montou uma brigada que seguia um modelo militar no combate ao mosquito e aos ratos. Os agentes entravam nas casas das pessoas em busca dos transmissores das doenças. A população também foi incentivada a caçá-los, e o combate ocorria independentemente da época do ano.
Em pouco tempo as medidas surtiram efeito e em 1907 a febre amarela foi erradicada do Rio de Janeiro.
Só mais tarde, em 1955, o Brasil inteiro foi considerado livre do mosquito Aedes aegypti. Ima Aparecida Braga, do Programa Nacional de Controle da Dengue, e Denise Valle, do Departamento de Entomologia da Fiocruz, explicam em um artigo que a eliminação do mosquito no Brasil veio de uma ação articulada da Organização Pan-Americana da Saúde e da Organização Mundial da Saúde, iniciada em 1947.
As duas organizações decidiram coordenar a erradicação do mosquito no continente, por intermédio do Programa de Erradicação do Aedes aegypti no Hemisfério Ocidental.
Há 40 e poucos anos - Em 1967, o mosquito foi novamente introduzido no Brasil e eliminado em 1973. Autora do artigo 'Um desafio para a saúde pública brasileira: o controle do dengue’, Maria Lucia Penna explica que a erradicação "se deu pela utilização do método perifocal que constituía na aplicação de inseticidas de efeito residual de seis meses em paredes externas e internas de todos os depósitos domiciliares com ou sem água, assim como nas paredes próximas até 1m de distância dos eventuais criadouros”.
Pessimismo - pessimismo relacionado à dificuldade de eliminar o mosquito é antigo. Em 2002, o especialista em doenças infecciosas Marcos Boulos disse, em entrevista à Folha de S.Paulo, que é “inviável erradicar o mosquito”. Na época, ele já dizia que era preciso conscientizar a população no combate ao mosquito também fora da época em que ele se prolifera e argumentava que a expansão da população impedia o controle, como foi feito há mais de cem anos.
Erradicar o inimigo número 1 do Brasil, como o ministro da Saúde, Marcelo Castro, se refere ao mosquito, é uma tarefa que, segundo os sanitaristas, exige muitoinvestimento em infraestrutura e um amplo trabalho de conscientização da população e dos governantes. A expectativa deles é que o País aproveite o momento para perceber a importância do saneamento básico.
Brasil Post