segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Mãe que matou filho por não decorar Corão pega prisão perpétua


O crime ocorreu em julho de 2010, e a decisão de um tribunal de Cardiff, no País de Gales, foi anunciada após um julgamento de cinco semanas.
Sara Ege foi condenada ainda a quatro anos de prisão por obstrução da Justiça. Ela chegou a confessar o crime, mas depois mudou sua versão e culpou o marido, Yousuf Ege, de 38 anos, pela morte do menino Yaseen Ali Ege (foto).
O pai do garoto foi inocentado das acusações.
Sara foi considerada culpada de espancar o filho até a morte e depois atear fogo ao seu corpo para tentar ocultar o cadáver.
O juiz Wyn Williams declarou ao ler sua sentença que os atos de violência de Sara não se limitaram ao dia da morte do menino.
"Por três meses você bateu nele com um bastão de madeira e tenho certeza de que estas surras causaram dor significativa a ele. Essa crueldade prolongada culminou com o dia de sua morte, no que foi um ataque selvagem. Então você ateou fogo ao corpo dele numa tentativa de se livrar da responsabilidade pelo que havia feito", disse.
O magistrado acrescentou que "ao matar seu filho, você violou um relacionamento precioso de confiança que existe e deveria existir entre uma mãe e um filho".
Durante as investigações do caso, descobriu-se registros de violência na família em 2003 e 2007, mas de acordo com Williams, embora o país possa aprender lições com o ocorrido, a morte do menino não poderia ter sido prevista.
Após o julgamento, o pai do garoto prestou homenagens e disse que "ele era amado por todos que o conheciam devido à sua linda natureza e seu alto nível acadêmico".
Professores de Yaseen disseram que ele tinha um lindo sorriso e que era um excelente aluno.
"Yaseen era um menino que adorava aprender, ele estava sempre muito feliz, ele era um bom garoto, muito inteligente e muito educado", disse uma de suas professoras de árabe.
Durante as investigações, Sara Ege chegou a culpar o pai do menino e sua família, que segundo ela a teriam ameaçado para que confessasse o crime cometido pelo marido.
Em suas confissões, no entanto, ela deixou claro que as dificuldades do menino em memorizar o Corão para disputar competições na escola a deixavam muito frustrada e irritada.
Seus depoimentos foram feitos em julho de 2010, poucos dias após a tragédia, e registradas em vídeo e em outros documentos.
Na gravação de mais de uma hora de duração, ela disse que Yaseen caiu enquanto murmurava trechos do livro sagrado islâmico e afirmou ter pensado que ele tivesse adormecido.
Sara diz que deixou o filho onde ele estava, sobre um tapete ao lado da cama. "Ele estava respirando como se estivesse dormindo quando o deixei. Ele continuava sussurrando a mesma coisa. Achei que ele só estivesse cansado".
No depoimento, ela diz ter voltado ao quarto do filho dez minutos depois, e que o encontrou tremendo, com calafrios, ainda no chão. E que, logo depois, ele morreu.
Surpreendentemente, ela explica no vídeo que sua decisão imediata foi de queimar o corpo e que, para isso, foi até a cozinha para pegar um frasco de álcool em gel usado para churrascos. O fogo fez com que a polícia acreditasse, inicialmente, na versão de que o menino havia morrido vítima do incêndio.
A autópsia, no entanto, revelou que Yaseen já estava morto quando o incêndio começou.
Em outros depoimentos perante a corte, ela confessou que estava fora do controle e que espancou seu filho sem motivos.
"Na hora eu não estava pensando em nada, eu só estava muito assustada. Era sempre assim, de novo e de novo, quando eu batia no Yaseen com um bastão. (...) Eu culpo a minha raiva. Eu perdi o controle. Não consigo entender o que aconteceu. Não houve intenção de ferir meu filho."

Escola

O depoimento de uma professora da escola que Yaseen frequentava reforçou a tese de violência recorrente. A professora disse que, certa vez, Yaseen relatou sentir dores na mão e, ao ser questionado sobre o motivo, disse ter apanhado da mãe com uma régua.
A queixa foi repassada à diretora da escola, que teria chamado a mãe do garoto para uma conversa, mas o teor do encontro não foi divulgado. Também não se sabe se a escola informou as autoridades sobre o incidente.
A própria mãe admitiu que as surras eram recorrentes. Ela disse, em um dos depoimentos registrados em 2010, ter prometido a si mesma que não bateria mais na criança – algo que não conseguiu cumprir, voltando a espancar o filho de forma sistemática, até sua morte.

BBC Brasil