sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Comissão estadual da verdade ouve ex-Major Ferreira


A Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara, que investiga as mortes, torturas e desaparecimentos de pessoas durante o período da ditadura militar, ouviu nesta quinta-feira (20) o depoimento do ex-major da Polícia Militar, José Ferreira dos Anjos. Ele atuou na 2ª seção da PM no período da repressão, e é considerado peça-chave para esclarecer os crimes ocorridos em Pernambuco durante essa época. A sessão, que foi aberta ao público, lotou o auditório do Banco Central, na Rua da Aurora, centro do Recife.

A pedido da Comissão da Verdade, a própria PM garantiu a segurança do ex-major, que foi recrutado, em 1969, pelo então comandante do 4° Exército, o General Ednardo D’Ávila Melo. O trabalho de Ferreira seria atuar na repressão aos que eram contra o Golpe Militar de 1964.

Durante seu depoimento, o ex-major disse que uma de suas primeiras missões foi exatamente localizar e prender 12 estudantes que haviam participado de um congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna, São Paulo. Entre os jovens estavam o jornalista Ricardo Noblat, ainda vivo, e Cândido Pinto, que tendo se recusado a entrar no carro da polícia, recebeu vários tiros. Pinto acabou paraplégico, por conta de um tiro que teria sido disparado pelo ex-major Ferreira.

A fala de Ferreira foi acompanhada pela família da vítima. Durante o depoimento, a Comissão da Verdade pediu ainda detalhes sobre a morte do padre Antônio Henrique Pereira Neto, torturado e morto aos 29 anos, na Cidade Universitária.
"O padre Henrique estava fazendo um trabalho junto aos drogados, quando alguns elementos da Polícia Civil trouxeram ele até a Rural (carro) verde e branca. Estariam nesse carro o X9 e o Rocha. Eles então jogaram o padre dentro da Rural e sumiram com ele, que só apareceu morto, no dia seguinte", explicou o ex-major.

Apenas um dos nove integrantes da Comissão não esteve presente na sessão pública: o advogado Gilberto Marques, que não se sentiu à vontade para participar porque, em 1983, foi assistente na acusação do julgamento que condenou o então major José Ferreira dos Anjos. Na época, Ferreira recebeu a sentença de 32 anos de cadeia por ser o mandante do assassinato do procurador da República Pedro Jorge de Melo e Silva.

Quando foi assassinado, Pedro Jorge investigava um desvio milionário de dinheiro do Banco do Brasil na cidade de Floresta, município no Sertão pernambucano, caso que ficou conhecido como o Escândalo da Mandioca.

A Comissão Estadual da Memória e Verdade foi criada em junho deste ano. As investigações têm dois anos para ser concluídas, mas o prazo pode ser renovado por mais dois. Em Pernambuco, vão ser analisados dez desaparecimentos, 39 mortes e mais de cem casos de tortura. Outros 16 estados contam com esse tipo de comissão – todas foram criadas após o início dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade.
Portal G1
Foto: Jacqueline Araújo