terça-feira, 12 de junho de 2012

Para China, veto à Internet protege população


Em uma rara entrevista de um membro do governo chinês sobre temas considerados sensíveis, um alto funcionário da chancelaria disse que a maioria da população não se interessa pelo advogado cego Chen Guangcheng.
Ele também justificou o bloqueio do Facebook e do Twitter e detalhou por que a correspondente do canal Al Jazeera foi expulsa do país.

Em encontro com um grupo de jornalistas latino-americanos ontem, Ma Jisheng, vice-diretor-geral do Departamento de Informação do Ministério das Relações Estrangeiras, disse que Chen, que fugiu de uma prisão domiciliar e provocou momentos de tensão com os EUA, não chama a atenção da maioria do público chinês.

"Nem ao menos posso dar uma explicação que dure mais de um minuto, porque não o conheço e tampouco me interessa", disse Ma. "Para nós, a censura não tem sentido, é a população que não tem interesse no tema."

O caso Chen, que ficou 19 meses em prisão domiciliar sem nenhuma medida judicial, só passou a ser amplamente noticiado na China após se tornar um imbróglio internacional.
Sobre as redes sociais bloqueadas na China, Ma afirmou que isso não é medida para medir liberdade de expressão e que a internet chinesa dispõe de outros mecanismos com a mesma função.

"Mais de 400 milhões de internautas chineses realizam todo tipo de contato sem Facebook (...) Os meios de comunicação ocidentais têm essa fórmula de igualar Facebook e Twitter com liberdade. O que propomos é que, sem Facebook, também podemos gozar de liberdade."

Ele enumerou vários motivos para controlar a internet: evitar incentivo a conflitos étnicos, jogos on-line e até poligamia: "Muita gente oculta seu estado civil para se casar com até dez mulheres".

Sobre o caso recente da correspondente da Al Jazeera, a americana Melissa Chan, ele disse que a repórter não respeitou várias vezes regras para jornalistas estrangeiros, como portar identificação.

"Há anos, ela levou uma foto grande da praça da Paz Celestial na zona comercial mais movimentada de Pequim, perguntando aos pedestres se conheciam a foto. No final, os cidadãos sentiram que o ato prejudicou o tráfego urbano e a denunciaram para a polícia."

Folha SP