terça-feira, 19 de junho de 2012

Cigana que vive no Recife reencontra o pai depois de ver foto dele na internet


Longe do lar há 12 anos, Daiane da Rocha, 23 anos, moradora do Recife, é o exemplo de como a mobilização de parentes e amigos pôde realizar o sonho de reencontrar a família nessa segunda-feira (18). Com o uso de ferramentas de busca pela internet e das redes sociais, Daiane identificou seu pai há 15 dias em fotografia publicada pela Agência Brasil (ABr) como personagem da reportagem especial Ciganos: Um Povo Invisível, divulgada em 2011.
Daiane é cigana, nascida em Belo Horizonte, mas, ainda criança, foi com a família morar na cidade goiana Jardim Ingá. Após a fuga da mãe, ela se viu com a responsabilidade de cuidar de cinco irmãs. Teve de largar a escola e passou a morar em assentamentos com outros ciganos. A pressão de parentes e o preconceito com o fato de a mãe não ser cigana levaram a então pré-adolescente a fugir de casa.
“Eu sentia muita dor, ficava muito triste. Sentia muita raiva dela [da mãe], porque era muita humilhação ver minhas irmãs sem roupa e dependendo de um prato de comida da família ao lado. Minha mãe não era cigana, por isso, [parentes] diziam que eu era diferente e isso me forçou a sair de lá”, disse Daiane.
Com a ajuda de uma tia, Daiane conseguiu deixar a vida cigana, com a promessa de que retomaria os estudos, e seguiu rumo a Pernambuco. Chegando a Garanhuns, ela se deparou com uma situação bem diferente, pois foi obrigada a pedir esmola na rua. No entanto, em menos de um mês conseguiu fugir novamente, com a ajuda de um caminhoneiro e, após muita procura, conseguiu trabalho como empregada doméstica em casa de família. “Eu trabalhava em troca de comida e abrigo. Tinha 15 anos e ela [a dona da casa] não me deixava estudar”.
Após ser dispensada, a cozinheira da casa a acolheu como filha. Daiane passou a morar no bairro Nova Descoberta, em Recife. Lá, apesar das dificuldades, profissionalizou-se cabeleireira e manicure pelo Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem), do governo federal. Hoje, Daiane exerce a  profissão com carteira assinada, é casada e tem dois filhos. Mesmo tendo fugido de casa, ela garante que nunca deixou de procurar o pai.
“Nunca desisti de procurar. Eu imaginava o pior, achava que meu pai tinha muito ódio de mim. A minha tia ficava colocando na minha cabeça que ele não me queria mais, porque tinha saído de lá [da casa]. Eu disse que queria voltar, mas ela me botava muito medo”, relembra a jovem.
A dona do salão de beleza onde Daiane trabalha, Virgínia Campello, se comprometeu a ajudar a moça. Desde então, usou as redes sociais como instrumento de divulgação da história da cigana. No início de junho, uma amiga enviou a foto do comerciante Wanderlei da Rocha, tirada pelo fotógrafo da ABr Marcello Casal Júnior.  “Na mesma hora em que vi [a fotografia], descobri que era meu pai”, disse Daiane.
Com a ajuda da patroa e das colegas do salão, Daiane chegou a Brasília na manhã de ontem (18). Saiu do aeroporto em direção a Planaltina de Goiás, onde mora o pai. Após uma hora de viagem, ela finalmente reencontrou o pai e as irmãs. Emocionada, Daiane desmaiou assim que abraçou Wanderlei. O choro tomou conta de toda a família. A cigana teve a oportunidade de rever tios, primos e sobrinhos. “Se eu tivesse alguma coisa para completar a minha vida, foi preenchida hoje. Qualquer palavra é pouco para dizer o que estou sentindo agora”, declarou Wanderlei.
Cerca de 20 pessoas, entre filhos, irmãos e sobrinhos, moram com Wanderlei em uma pequena chácara na zona rural de Planaltina de Goiás. Apesar de ter uma casa de alvenaria, pelo terreno há ainda três barracas de lona. Segundo o comerciante, o objetivo é “manter a tradição cigana”.
Para Virgínia Campello, o fato de estar presente em uma casa simples de uma área rural faz com que as pessoas repensem os valores. “No meio dessa simplicidade todinha, olha só o que aconteceu. Realmente, a gente tem de aprender a viver do essencial, porque o essencial é a família. O resto é acessório”.
A chegada de Daiane foi festejada com danças típicas, além de um churrasco. A cabeleireira deve ficar uma semana com a família e depois retorna para Recife para reencontrar o marido e os filhos. “Agora que encontrei meu pai vou manter contato. Quero levá-lo para lá [Recife], para conhecer minhas filhas e meu marido”.

Agência Brasil